sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O seu a seu dono


"Mas o País ainda não homenageou o poeta admirável e o cantor de palavras claras que esteve sempre com as causas justas, as batalhas necessárias e as urgências que a História exigia. Melhor do que nós, fazem-no os galegos, para os quais José Afonso é um marco e um símbolo da dignidade e da probidade humanas.

Os textos de "intervenção" que escreveu pertencem à mais rigorosa selecta da lírica portuguesa.
Provêm, directamente, das fontes medievais e da tradição de combate e crítica da grande poesia. Zeca Afonso não facilitava a interpretação dos seus poemas. A diversidade de leituras que propõem sugeriu muitos estudos no estrangeiro e o respeito de duas ou três gerações que ele distinguiu com a lição de um desprendimento total.

Comparar a obra do poeta às "cançonetas" "dos" Deolinda, como por aí se tenta, é um ultraje e uma demonstrada ignorância. Mas estas comparações não são ingénuas. Fazem parte do arsenal de apoucamento do Zeca, que um sector da vida portuguesa deseja, há muito promover. É desnecessário. A força, a qualidade do imenso trabalho criador do autor de "Traz outro amigo também" não sofre paralelismo com outro qualquer. O que não passa de uma funçanata divertida e trôpega dificilmente poderá ser levada a sério e entendida como "intervenção social e ideológica." As comparações são propositadamente estabelecidas (inclusive por alguma Imprensa desprezível) para fomentar a confusão e enganar tolos. A estratégia não é nova. Ainda há quem não perdoe a Zeca Afonso a magnitude do seu talento e o cariz de uma arte que sempre recusou o panfleto sem desprezar a intenção de revolta."

Batista Bastos aqui

4 comentários:

  1. Assino por baixo. Tudo.
    Contudo, não deixo de alertar para o trabalho sério que Os Deolinda estão a fazer e para o facto de não serem culpados da asneirada que anda por aí. Sobre a qualidade da sua obra, ainda haverá muito que esperar (assim como da nova música portuguesa). As comparações são incomparáveis, desde logo porque o grupo tem 2 CDs e 5/6 anos de estrada. O Zeca teve 30 anos de carreira, 17 LP's, 2 Singles 2, 1 Maxi-Singles e 1 LP Duplo...

    Bom post

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  2. Rogério, não se trata de questionar a seriedade ou falta dela do trabalho dos "Deolinda". Nem sequer vou por aí, terão o seu mérito, embora eu não seja fã. Discordo da argumentação comparativa do numero de CDs, Singles ou Lp's ou pelos anos de carreira, desde logo porque recuso que o Zeca tenha tido uma "carreira", tenha feito qualquer "carreira", a própria ideia de "carreira" era para ele qualquer coisa estranha. O mundo dele não passava por "carreiras", só por "formigas no carreiro".... e isto faz toda a diferença.

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  3. "Fazem parte do arsenal de apoucamento do Zeca, que um sector da vida portuguesa deseja, há muito promover."

    Não digo que não, mas está a fazer o mesmo aos Deolinda.

    "Comparar a obra do poeta às "cançonetas" "dos" Deolinda, como por aí se tenta, é um ultraje e uma demonstrada ignorância."

    Ignorância porquê? Acha-se por acaso dono do saber, da qualidade musical e poética.

    Todos podemos ter os nossos gostos, mas ignorantes são aqueles que acham que o mundo deve ser todo da mesma cor.

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  4. Disse carreira. Não disse carreirismo. Quer queira, quer não queira. O Zeca teve uma carreira...segui-a, com trabalho,com persistência, motivado por valores e pelo sonho e ajudado pelo seu próprio génio. Mas não detém o exclusivo disso, felizmente...

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